O exercício da democracia presume um permanente aprendizado de todos os cidadãos, governantes ou governados.
Infelizmente, o retorno de figuras caricatas como Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer, José Genoíno, Jader Barbalho e tantos outros traficantes do poder demonstra que o povo, na hora de eleger, de fazer escolhas, ainda tem muito a aprender.
Esses “eleitos” com base numa planilha de interesses – sempre escusos! – ficam quatro, mais quatro e tantos outros quatro anos gozando de mordomias impensadas aos seus próprios eleitores, adquirem fazendas, ilhas, imóveis e guardam dinheiro em paraísos fiscais. E, ano após ano, as amebas e os carneiros que votam neles, os reconduzem aos seus cargos mais do que privilegiados.
Quando saem, por decrepitude ou outra causa, colocam a filha, um parente, a mulher ou um apaniguado, capacho ou títere preparado para a ocasião.
A cada eleição, fazem, religiosa e eficientemente, sua parte: distribuem reles empregos (os melhores vencimentos ficam para eles mesmos e seus mais chegados), camisetas, chaveirinhos, folhinhas de parede e outras quinquilharias.
A verdade é que nunca fizemos determinadas perguntas antes de sairmos casa para depositar o nosso voto nas urnas.
Essas perguntas são, pelo menos, estas:
“Quem pode fazer leis por mim?”
Se estou votando para deputado ou vereador, no mínimo, o candidato deve ter alguma intimidade com a atividade parlamentar, com o múnus legislativo. Não precisa ser advogado, mas, ao menos, deve ter conhecimentos da Lei Orgânica (tem vereador que nunca e leu!) e, se não sabe diretamente fazer leis, que contrate bons assessores.
“Quem pode ordenar a ocupação do solo urbano?”
O que o candidato sabe sobre isso, sobre ocupações dos sem-teto, sem-terras, sem isso e sem aquilo. O que sabe sobre desafetação (mudança de destinação de uma área pública), planejamento urbano e assim por diante?
“Quem pode cuidar do meio ambiente?”
As decisões sobre mananciais, sobre recursos hídricos, sobre coleta, seleção e tratamento do lixo, sobre destinação dos resíduos urbanos da construção civil, dos restaurantes, dos hospitais serão tomadas pelo parlamentar. Mas… o que ele sabe sobre isso?
“Quem pode decidir matéria tributária?”
Se meu candidato vai decidir por mim a coleta, partilha e destinação dos tributos, quero saber se ele tem alguma ideia da importância do tema. Tem vereador que não sabe o que é fato gerador.
“Quem pode legislar sobre educação?”
Projetar os investimentos em educação significa a sobrevivência de uma cidade! Os parlamentares, não-raramente, querem saber apenas quanto ganharão de propina se os uniformes das escolas públicas forem fabricadas em Minas Gerais ou São Paulo. Basta ver o recente escândalo da merenda escolar, ocorrido sob as barbas dos parlamentares.
“Quem pode cuidar do Tesouro por mim?”
Quem pode administrar a fortuna arrecadada em impostos, com honestidade, seriedade, em meu nome e a meu favor? O governo federal faz trapaças com o cartão corporativo, o Senado faz lambanças com os cargos de confiança e todos, sem exceção, querem mamar nas tetas generosas da República.
“Quem vai fiscalizar o Executivo por mim?”
Não falo de trocar torpedinhos pelo Facebook sobre a administração municipal. Falo de fiscalização séria, com conhecimento de causa. Ao contrário, é a própria Câmara que chama o Tribunal de Contas para “fiscalizar” o prefeito! Atualmente, como se fosse um parquinho de diversões, a Câmara se dedica a “cassar” o prefeito (versão oficial) e a trocar favores e cargos com ele pelo voto no processo (versão subterrânea).
Há quatro ou cinco vereadores com seus mandatos por um fio, frequentando a Câmara sob liminares. Basta ao prefeito alegar inidoneidade e suspeição desses vereadores e o processo se alongará pelos próximos dez anos.
Assim, perguntar “quem vai cuidar da cidade enquanto eu trabalho”, “quem vai ordenar o trânsito”, quem “cuidará da saúde” ou quem vai “economizar recursos” por mim me dará uma boa pista de quem vai merecer meu voto. Não será qualquer pé-rapado, empurrado por acordos partidários, que há de me representar nas Câmaras ou na Assembleia.
Vamos aprender com os filósofos, para quem, cada povo tem o governo que merece.
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