Rumo ao passado

Os vereadores de Campo Grande já regularam o trânsito de carroças em Campo Grande.

Agora, nesse passo e nessa direção, aguardo a regulamentação para o carro-de-boi, as oficinas de máquinas de escrever, o uso do fogão a lenha e da pomada Minâncora.

Na falta de trabalho sério e alheios aos tempos de internet, wireless, iPhone, iCloud e grifes como Motorola, Microsoft e Apple, os vereadores trabalham com o que lhes é familiar.

Regular o serviço das parteiras, benzedeiras, aquelas que afastam mau-olhado e arca-caída, deve estar na pauta dos nobres senhores que ganham 27 mil mensais para pensar a nossa vida e tratar desses assuntos incrivelmente modernos e interessantes.

Com esse último esforço regulamentador, o das carroças, estamos retornando ao antigo Código de Posturas de Campo Grande, onde era proibido “escarrar no passeio público”, “amarrar cavalo no chafariz da praça”, “usar chapéus nas pistas de cancha (corridas de cavalos)”e segundo o qual todo mundo ficava “obrigado a matar o próprio formigueiro”.

Está tudo bem. Uma Câmara que tem um horizonte tão atual e apertado de prioridades não nos pode fazer mal, embora nos custe muito pagar tanto por praticamente nada.

Poderiam os vereadores, por exemplo, pensar nos postos de saúde sem pediatras, farmácias sem medicamentos essenciais, aparelhos de radiologia emperrados, vias públicas mal-sinalizadas causando acidentes, terrenos baldios abrigando bandidos e ratazanas.

Poderiam coibir a exploração de restaurantes, que cobram 200 reais por um prato com três camarões, flanelinhas que cobram “estacionamento” nas ruas apesar de haver um parquímetro instalado e cobrando pelo serviço.

Poderiam verificar a falta de linhas de ônibus para os distritos industriais, o que obriga empresários a transportar seus funcionários por conta própria, enfrentando a cobrança de horas extras in itinere. De que adianta atrair indústrias para Campo Grande se a infra-estrutura não existe e não ajuda?

Vêm aí racionamento de água e aumento da conta de energia. Será que os vereadores já visitaram os pontos de captação de água em Campo Grande? Será que estão atentos a esses problemas? Terão consciência de que a validade de mercadorias perecíveis é alterada irregularmente nos balcões de supermercados?

Os lixões, com os dias contados por força da legislação ambiental, grassam em Campo Grande, com pobres-diabos à margem da vida misturando-se com os urubus, mas os senhores vereadores, às vésperas de seu próprio despejo, escondem-se em seus gabinetes, trocam fofocas e frivolidades políticas, aguardando o momento de passar no Caixa e levantar os polpudos vencimentos.

Uma agenda mais sólida não lhes passa pela cabeça, muito ocupada com o regulamento dos carroceiros e do óleo de fígado de bacalhau.

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